segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Villaverde: 'de projetos e maquetes Porto Alegre está cheia'

Tentando recuperar a prefeitura que o PT ocupou por 16 anos, até 2004, Adão Villaverde se apoia nos feitos dos ex-gestores da legenda e reforça a todo o momento a ideia de que é necessário planejamento estratégico. Para o candidato petista, a atual gestão de José Fortunati (PDT) governa de improviso e perde oportunidades, o que pontua referenciando fortemente os recursos federais e estaduais. "De projetos e maquetes a cidade está cheia. É a cidade do gerúndio, 'estou fazendo, 'estou propondo'", criticou.

Certo de que chegará ao 2° turno, Villaverde acredita que a campanha na TV lhe dará a oportunidade de ser apresentado "para o conjunto da sociedade", embora não considere seu nome desconhecido. O programa de governo é apontado como uma das grandes armas na batalha pelo executivo municipal, por ser "inovador" e se basear em ressaltar as "vocações" de Porto Alegre para o turismo de negócios e para a área tecnológica.

Saúde e segurança pública também aparecem reiteradamente nas falas do candidato petistas, em geral acompanhadas de uma crítica à atual gestão municipal. As críticas também sobraram para a pleiteante do PCdoB, Manuela D'Ávila, especialmente em relação a propostas para o meio ambiente. Quanto ao mensalão, no centro do qual está o PT, Villaverde reforça o estranhamento pelo julgamento no período eleitoral, mas acredita que o processo não vá interferir nas campanhas da legenda, e sobre a sua em especial se diz "tranquilo".

Terra - O desempenho do senhor na primeira pesquisa, que ficou em menos de 10%, não é um desempenho que seja histórico do PT aqui. O senhor acredita que a partir de agosto, com início da campanha na TV, tem a possibilidade de impulsionar e chegar ao 2° turno? Como fazer isso?

- Estamos absolutamente convencidos de que isso vai acontecer. Não sou um nome desconhecido na cidade, mas não tivemos oportunidade de apresentar para o conjunto da sociedade, como as outras candidaturas. E o PT tem um enorme potencial, cresceu no último período, recuperou uma condição que historicamente havia acumulado. Tem o cenário nacional, muito positivo, o grau de identidade nosso com o projeto nacional, com Lula, Dilma, com quem governa o Estado. Nesse primeiro mês de campanha, praticamente fomos a única candidatura que fez eventos com muita mobilização, com militância muito presente.

Apresentamos um programa inovador para recuperar a condição que Porto Alegre já teve e não deveria ter perdido. Tem três grandes eixos, e acho que será um mobilizador da nossa campanha. Sou professor, engenheiro, coordenei projetos importantes como o Ceitec, conheço essa área de planejamento, fui secretario de planejamento do Estado. Aprendi que para os projetos darem certo você tem que ter muita consistência e capacidade de prepará-los e evitar uma questão que na gestão pública mina bons resultados, que é o improviso.
Porto Alegre deixou de ser uma cidade de serviços, tecnológica, atrativa do ponto de vista da inovação, do lazer, do turismo de negócios, que serão eixos da nossa campanha, também na área da política econômica, das políticas sociais, da segurança pública, de saúde, de educação. Achamos que vamos crescer e estar no 2° turno.

Terra - Acredita que se estiver no 2° turno receberá o apoio de Manuela D'Ávila (PCdoB), caso ela não esteja?

- Isso é uma discussão que tem que ser feita. Temos divergências, vamos ter que ver como é que isso se desdobra. Na coligação dela sei que tem muitos apoiadores adversários do Tarso Genro (governador do RS), do Lula, da Dilma. São contradições da política. Nossa aliança não enseja essas contradições. Por isso é muito importante o 1° turno. Vai ser o revelador das políticas de aliança, dos compromissos. Por exemplo, ela não trabalha a questão do meio ambiente, porque ela tem um bloco de relações que é totalmente conservador na política ambiental.

Terra - E quanto ao prefeito José Fortunati (PDT), qual sua a maior crítica à gestão dele?

- Ao longo desses oito anos, no melhor momento do Brasil de possibilidades para as políticas públicas dos municípios, Porto Alegre não soube aproveitar essas condições com a dimensão que elas foram colocadas. Perdeu recursos na área da saúde, segurança pública, educação. Nossa crítica é de não aproveitar as oportunidades, talvez por uma das características da gestão, que é o improviso, sem pensar em longo prazo.
O maior exemplo agora são as obras da Copa. De dez, oito tiveram reajuste, na média de 65%. Toda vez que uma obra tem 1% ou 2% a mais para ser remanejada, já tem um problema de planejamento, imagina uma que tem 65%. Tem uma que esta tendo reajuste de 248%. Você tem que responder as questões emergenciais da cidade, mas você tem também que pensar a cidade estrategicamente para as próximas décadas.

A insegurança virou um problema enorme. O prefeito entende que segurança pública não é responsabilidade dele. Temos uma visão de que tudo o que acontece no território é de responsabilidade de quem está na gestão pública, independente de quem financia as políticas - governos estadual e federal -, quem tem que assumir uma conduta de enfrentamento da violência no município.

Terra - O senhor pretende aproveitar a posição do PT no governo nacional e do Estado para conseguir trazer mais oportunidades para Porto Alegre?

- A gente tem canais de relações direto com a presidente Dilma e com o governador.

Terra - Mas o prefeito Fortunati não tem esses canais?

- Acho que falta competência da equipe. Às vezes não basta você ter canais. Na questão do metrô, por exemplo, tenho divergência, acho que a equação econômica, financeira, toda a modelagem já poderia estar pronta, porque sabíamos que o CMT (Consórcio Metropolitano Transportes) ia sair com essas características. O problema é que tudo não é pensado, é feito na base do improviso, são essas coisas que fazem a gente perder oportunidades.

Na área habitacional Porto Alegre tem o resultado mais baixo do programa Minha Casa, Minha Vida, se comparado com as cidades do RS. Temos em torno de 54 mil famílias cadastradas no programa, uma expectativa de atender em tono de 10 mil, e até agora 700 pessoas receberam.

Terra - O Orçamento Participativo foi uma das grandes marcas dos 16 anos da administração do PT em Porto Alegre. Como pretende voltar e avançar com o Orçamento Participativo?

- Palmilhamos a cidade, as comunidades, as entidades para ouvir e chegarmos ao nosso programa. E uma das grandes questões apontadas é a ausência de canais institucionais para a relação da comunidade com o governo, tanto para incindir sobre as decisões como para controlá-las. Então em relação à participação, ao controle e à transparência vamos tomar um conjunto de iniciativas. Recuperar o Orçamento Participativo nas novas condições.

Vamos ampliá-lo, do ponto de vista da abrangência. Terceiro, vamos construir um processo de participação não presencial, através dos instrumentos de rede que a gente tem, e criar canais inclusive de as pessoas poderem decidir sobre temas, como plebiscitos sobre determinados assuntos. E vamos instituir algo que inclusive era uma tradição nossa: as plenárias de serviços nas comunidades, que são o prefeito levar seus gestores ou gestoras públicos para as comunidades para verificar como está o saneamento, a educação etc.

Aquilo que tinha sido um eixo de intervenção das políticas públicas por um largo período, que era levar saneamento, água, pavimentação, drenagem para nossas comunidades, não só não ampliou como em vários bairros esses serviços caíram de qualidade. E fizemos esses investimentos só com recursos da prefeitura. Hoje você tem outras possibilidades: PAC da mobilidade, da infraestrutura, do saneamento. Outra questão que a gente cobra é em relação ao PISA (Projeto Integrado Sócio Ambiental). Quando assumimos Porto Alegre, o tratamento de esgoto sanitário era 2%, deixamos em 27% e com projeto para tratar 77%. Passaram-se oito anos e nem um metro cúbico a mais sequer é tratado em Porto Alegre. Nosso programa prevê o PISA número dois, ou seja, aquele que vai ter que universalizar o tratamento de esgoto, de 77% pular pra 100%.

Os empresários é que fazem os investimentos, mas quem faz a gestão pública é que tem que ter instrumentos que potencializem. No ano passado ocorreram 33 ou 34 grandes eventos, passaram entre 170 e 200 mil pessoas pela cidade, mas não está preparada, não tem um grande centro de eventos, ela funciona por impulso. Você não pode pensar atrás disso, o ideal era você se antecipar e planejar as coisas.

Terra - O senhor pretende usar os investimentos da Copa como se ela fosse, de certa forma, apenas mais um desses eventos que Porto Alegre costuma sediar?

- A Copa é um evento muito importante, e todos queremos que venha para cá, mas a nossa visão é para muito além da Copa. Por exemplo, qualificação profissional. Esse é o melhor momento do Brasil na área técnica, há instrumentos pra financiar. Entendo que temos que preparar Porto Alegre nessa área de turismo de negócios, turismo de lazer, preparar para as próximas décadas.
Outra área muito importante para o RS e particularmente para Porto Alegre é a da cultura. Criou-se uma cultura na cidade que você não pode sair de noite, porque a cidade está ficando insegura. Para nós a cidade tem que ser viva de dia de noite, e nessa ideia a cultura seria um elemento animador do funcionamento da cidade.

Terra - Qual é a proposta para se ter cultura de dia e de noite?

- Primeiro você investe na indústria do entretenimento, na economia criativa. Você tem que ter uma política no município para transformar isso em um espaço de geração de emprego e renda, ativar a economia da cultura, que é muito grande. Esses 170 mil, 200 mil (visitantes) estiveram em Porto Alegre de passagem, você tem que fixar as pessoas aqui. Mas aí tem que ter orientação nesse sentido. Porto Alegre não tem uma marca, foi a capital da democracia, foi a capital número 1 em qualidade de vida, mas perdeu isso.

Terra - Uma dessas marcas era a questão do transporte. E isso, hoje, de alguma forma se perdeu. Como o senhor pretende retomar isso? O metrô é a solução ou tem mais coisas?

 - Temos um projeto chamado "Mobilidade sustentável" que trabalha desde o pedestre até um grande anel viário no entorno de Porto Alegre. Os passeios públicos são das primeiras coisas em que vamos investir para recuperar, evidentemente com o setor privado. Vamos propor um anel viário em torno de Porto Alegre, que começa com o metrô, sim. Uma hipótese é fechar o metrô enquanto anel, redondo, e fazer uma 4ª perimetral, que sairia da zona Norte, chegaria no Centro, iria para a zona Leste, fecharia contornando o Morro Santana lá pela parte mais densa de Viamão (RS), chamada de Vila Santa Isabel, e voltaria de novo para a zona Leste.

O problema de Porto Alegre é que é uma cidade que tem o Centro no canto, e um sistema radial todo de deslocamento para o centro. Então na ideia do anel, para poder descentralizar a cidade, você tem que criar centros de bairros em vários lugares. Aí entra outra questão: vamos criar linhas interbairros. As pessoas pegam um ônibus e quando começa a entrar na avenida João Pessoa, começa a esvaziar e chega vazio. Então suspende essa linha, cria uma interbairros e você pode até reduzir o valor da passagem.

 E na questão dos ônibus tem que ter uma qualificação no sistema de transporte. A primeira coisa que vamos fazer é uma nova licitação, vamos exigir qualidade para os passageiros, horários e acessibilidade.

Terra - E a questão da Carris. Em uma época existia a ampliação das linhas Ts (transversais)...

- A Carris já foi exemplo de eficiência em transporte coletivo. Hoje é cargo de confiança, é baixo resultado, não é referência. Vamos reestruturar a Carris, porque é com ela funcionado bem que você cobra bem os outros. Vamos fazer um forte investimento na Carris, principalmente na ideia de que todo o sistema de transporte seja qualificado, nessa linha de descentralizar a cidade. As cidades que resolveram o problema de transporte no mundo resolveram descentralizando os centros.
O metrô tem três estações que, em cima, podem ser grandes centros de bairro. Para isso tem que ter serviço, escola, saúde, lazer, assistência, infraestrutura. A questão das ciclovias e do Guaíba. Se tem uma marca em Porto Alegre é o pôr-do-sol do Guaíba. Fora a maior integração do Guaíba à cidade. Acho que o regime de chuvas e cheias desde a enchente de 1941 para cá mudou, portanto esse dispositivo do muro hoje pode ser trocado por outro dispositivo.

Terra - Esse projeto do Cais Mauá, o senhor aprova?

- Aprovo, o problema é que mais uma vez ele não sai, de projetos e maquetes a cidade está cheia. É a cidade do gerúndio, 'estou fazendo, 'estou propondo'. Acho que a orla, o cais, o 4° Distrito, o Guaíba, o Centro Histórico, isso tudo é um complexo único que precisa ser pensado e repensado. Julgamos que a cidade só pode ser revitalizada se seu centro histórico estiver no centro da revitalização. Nenhuma cidade se revitalizou sem pensar o centro histórico.

Terra - Na questão da saúde, Porto Alegre tem uma das melhores infraestruturas do País, mas um acesso complicado. Qual a sua solução para isso?

- Porto Alegre é excelência em cérebro, coração, pulmão e tratamento de câncer, mas não é na atenção básica. E tem plenas condições, mas para isso tem que assumir plenamente a gestão do SUS, exigindo dos governos federal e estadual a questão do financiamento. Vamos investir na atenção básica. As unidades de pronto atendimento (UPA) seriam estratégicas para uma cidade como Porto Alegre por serem intermediárias entre o posto de saúde e o hospital, mas não há nenhuma funcionando aqui. Vamos investir nisso: postos de saúde, melhorar as equipes e aumentar o programa de saúde da família.

Os recursos? Vou explicar: 0,2% é o investimento de saúde da família em relação ao total de recursos que o município tem pra investir na saúde - R$ 1 bilhão próprio. Se aplicar 0,4%, você dobra a saúde da família, o dobro de equipes, e elas fazem aquilo que é fundamental, que é a prevenção. Fazendo prevenção hoje, amanhã você não investe cinco ou seis vezes mais e até de forma paliativa.
E vamos acabar com as filas com o teleagendamento. Vamos cadastrar um por um os cerca de 700 mil usuários do SUS em Porto Alegre, e informatizar todo o sistema para agendamento por telefone ou internet. Vamos estender os postos de saúde até as 22h. Para nós, tem que investir na atenção básica, e aí desafoga as emergências. Várias cidades no País já estão fazendo isso. Porto Alegre começou, mas poderia ter isso em condições bem mais avançadas.

Terra - O senhor já é deputado, foi secretário. Chegar à prefeitura seria o ápice da sua carreira política? Como o senhor pensa nessa trajetória?

- Não sou um quadro político com pretensões de carreiras, tenho pretensões de mudança e transformação da sociedade na qual me dispus desde os anos 1970 a me dedicar a atuar. Me sinto muito comprometido em ser prefeito de Porto Alegre, conheço a cidade, estou preparado do ponto de vista da gestão municipal. Mas não estão colocadas para mim outras alternativas, assim como nunca estiveram. Não pretendia, por exemplo, ser deputado, resisti inclusive quase 30 anos nesse tipo de atividade. Agora, é diferente você ser do executivo. Particularmente acho que tenho vocação de executivo, se me perguntassem entre parlamentar e executivo, eu não vacilaria. Nesse momento estou totalmente focado e decidido a ser prefeito. Diria que ser prefeito dessa cidade seria mais do que uma honraria, seria um compromisso de assumir aquilo que a gente quer que a cidade seja de verdade.

Terra - Essa eleição tem uma peculiaridade que todos os candidatos do seu partido têm que enfrentar, que é uma questão do julgamento do mensalão. Como o senhor analisa esse julgamento em meio ao processo eleitoral? Acha que este é o momento? Isso vai respingar nas campanhas do PT no País e inclusive na sua?

- Parece que querem tentar que sim. Acho que ninguém mais do que nós do PT, e eu em particular, na posição de candidato e pelo meu histórico, queremos que esse tema seja julgado, e do meu ponto de vista rigorosamente com base nos autos, com a independência do poder Judiciário. Mas na véspera de eleições, de fato é de estranhar essa escolha.

Vou tratar com muita naturalidade, primeiro que a população de Porto Alegre me conhece, sou o autor da lei que os jornalistas dizem que é a mais avançada de controle de gestão pública que tem no RS, que é a lei que controla o enriquecimento ilícito dos gestores públicos, apelidada de Lei Villaverde. Em segundo lugar, estou tranquilo porque a nossa gestão, não só do ponto de vista político, mas do ponto de vista da transparência, será uma gestão que vai se espelhar muito no que foi a gestão do Olívio (Dutra), do Tarso (Genro), do (João) Verle, de Raul (Pont), onde eu não tenho dúvidas em dizer que nenhum secretário teve de ser afastado por problema de denúncia, de conduta não ilibada etc.

Terra - O senhor fala em Olívio, Tarso, os dois mais expoentes do partido aqui no RS. O RS ficou centrado nessas figuras. O senhor acredita que não se criou outras lideranças? O senhor hoje talvez não tenha essa exposição dessas figuras, por não ter espaço ou por ter, como disse, ficado nos bastidores antes disso. Acha que o PT hoje enfrenta esse problema aqui no estado?

- Acho que é um problema natural, porque não tenho a exposição pública que teve o Olívio, a trajetória que teve o Tarso, mas sou um militante que surgiu junto com eles, sou fundador do partido. O Olívio quando concorreu na primeira eleição também fez 80 mil votos. Então você sofre essa questão de estar transitando de quadros com acúmulo pra quadros emergentes, mas você tem o empuxo também, que não tínhamos lá atrás. Na pesquisa, você verifica o índice do meu partido, o potencial de crescimento é enorme. Temos dois meses pela frente.

O Olívio, o Tarso, não foram produtos só da inteligência ou capacidade deles. Somos produtos da competência da gente, e mais do contexto em que está inserido. O contexto deles foi que se transformaram em grandes líderes de um projeto que começou aqui e que hoje é referência inclusive em Brasília. Acho que é natural que o partido se expresse em candidatos que não têm expressão pública, mas eu também nunca tive uma exposição de candidatura majoritária, sempre fui um candidato proporcional.

Fonte: Terra

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