Faz pouco tempo que me convenci de que a política municipal é a mais
importante para a transformação de uma sociedade. Tem a ver com aquela
frase do Franco Montoro que diz que “Ninguém vive na União ou no Estado.
As pessoas vivem no Município”, mas não só por causa do espaço
geográfico – e tenho certeza que a frase tinha uma conotação mais ampla.
O município desempenha um papel fundamental porque são as ações de sua
responsabilidade que de fato podem mudar a cabeça, os hábitos e as
perspectivas dos cidadãos.
Claro, o papel dos estados e da União é extremamente importante na
mudança de uma sociedade, principalmente porque são eles que respondem
direta e indiretamente por boa parte da renda
da população e que definem os rumos da economia. Foi a política
nacional que proporcionou uma vida melhor, tirando da pobreza e
fornecendo alternativas de educação e emprego, a milhões de pessoas. Foi
ela também que deu ao Brasil protagonismo nas relações internacionais,
por exemplo.
Mas é no município que se dão as transformações pequenas do
dia-a-dia, justamente aquelas que mudam mais profundamente corações e
mentes.
Percebi isso mais claramente assistindo ao programa Londres Assim,
um dos vários sobre a capital britânica nesse período de Olímpiadas, no
GNT. Hoje, segundo o programa, 95% dos habitantes da cidade vão trabalhar
de transporte coletivo, de bicicleta ou a pé. Incrivelmente, há menos
carros circulando pelas ruas de Londres hoje do que há 10 anos. E isso
não é assim por acaso, e aí entra o ponto que me deu o clique.
Há cerca de 40 anos, foi proibida a construção de estacionamentos em
edifícios comerciais. O metrô, isso é fato mais conhecido, é o mais
antigo do mundo, e funciona tremendamente bem. As linhas de ônibus são
muitas e muito frequentes, além de muito bem sinalizadas (sem falar que
boa parte da frota é ecológica). Entrar de carro na área central exige o
pagamento
de um pedágio bem carinho. E, muito importante, o cidadão londrino
respeita o ciclista. A cidade é cheia de ciclovias e toda sinalizada
para o uso de bicicletas. Aquelas alugáveis estão espalhadas por toda a
área central.
Nada é muito barato. Nem ônibus, nem metrô, nem alugar bicicleta. Mas
mais caro ainda é pagar para ter carro, já que ele não é prioridade na
cidade. Estacionar é superdifícil, o trânsito é lento, ir de um canto a
outro de carro demora mais do que de metrô e, muitas vezes, mais do que
de bici.
Ainda assim, mesmo o transporte individual não sendo prioridade, o
trânsito consegue ser caótico em determinados pontos e horários. Imagina
se o número de veículos tivesse aumentado. Como seria a vida da cidade?
Como estaria a qualidade de vida de seus cidadãos?
Agora imagina isso em Porto Alegre.
Incentivar o uso da bicicleta não é uma excentricidade defendida por
gente alternativa. É uma opção de modelo de cidade. Que funciona, até na
fria e chuvosa Londres. Optar por qual cidade queremos é optar pela
nossa qualidade de vida.
E o transporte é só o tema que me toca mais, mas há muitos outros. A
importância da política municipal está justamente no estabelecimento de
prioridades sociais. A existência de espaços públicos de convívio social
é outra questão importantíssima, por exemplo. É uma questão
urbanística, mas que tem impacto em diversas áreas, já que incentiva a
vida em comunidade, humaniza as pessoas, proporciona espaços de
convívio. E reflete em uma cidade mais saudável e uma sociedade mais
feliz.
Fonte: Blog Somos andando
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